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OPINIÃO |Greenwashing: um efeito colateral na corrida do mercado pela sustentabilidade?, pela Dra. Alice Khouri

Terça-feira, Maio 7, 2024 - 12:40
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EXPRESSO

Seja pela avalanche regulatória seja pela mudança do perfil do consumidor, o facto é que a sustentabilidade nunca foi tão sexy - um combustível irresistível para a comunicação

Press - Greenwashing: um efeito colateral na corrida do mercado pela sustentabilidade?

Após muita insistência científica e números alarmantes (como, por exemplo, o recorde de 2023 com um aumento das emissões globais de CO2 de mais de 70% comparado a 1990), a urgência pela transição climática - necessária para travar o aquecimento global - ocupa importância central no cenário atual da estratégia corporativa. O desafio do tecido empresarial, complexo e transversal, traduz-se na busca por desenhar e implementar medidas com atenção aos impactos gerados em dimensão social, económica e ambiental, por sua atividade e toda cadeia produtiva.

Seja pelo lado da avalanche regulatória (CSRD, Sustainability Due Diligence CSDDD, e os parâmetros do EFRAG), seja pelo lado da mudança do perfil do consumidor (que passa a exigir ser ator da transição climática e não sujeito passivo), o facto é que a sustentabilidade nunca foi tão “sexy”. E o que é “sexy”, atrativo, acaba por ser um combustível irresistível para a comunicação e marketing. A pressão reputacional e comercial para que as empresas comuniquem o impacto de suas atividades nunca foi tão grande.

Para cativar o público, continuar a ser escolhido como fornecedor ou simplesmente para não ficar exposto ao risco de perder financiamento ou incorrer em incumprimento das diretivas, as empresas são induzidas a comunicar, de forma célere e intensa, o que nem sempre ocorre da forma responsável, substanciada em factos e metodologias, como deveria. E é aí que entra o greenwashing: o grande problema está nas formas subtis da prática: empresas com dificuldade em acompanhar os pormenores regulatórios, dúvidas na interpretação, ou simplesmente não saber calcular ou justificar as informações alegadas.

O próprio âmbito do que se entende por “prática enganosa” ainda está em construção. Muito em breve falaremos em socialwashing, governancewashing, ESGwashing? Já se fala, aliás, na jurisprudência internacional: exemplo da decisão na Austrália de março (Comissão Australiana de Valores Mobiliários e Investimentos x Vanguard Investments Australia), que marcou a importância da divulgação transparente dos critérios ESG aos portfólios de fundos de investimento e penalizou, expressamente, pelas falhas no filtro relacionado ao uso de combustível fóssil, que permitiu no portfolio empresas com receitas associadas diretamente a transporte e exploração do carvão.

Do ponto de vista legislativo: Diretiva 2024/825, de fevereiro, proibiu a utilização de alegações ambientais gerais como “eco friendly”, “carbon neutral”, dentre outras, sem que estejam acompanhadas de provas ou quando utilizadas exclusivamente com base na compensação de emissões de gases com efeito de estufa. A queridinha Green Claim Directive, aprovada pelo Parlamento Europeu em 12 de março, exige que as alegações ambientais explícitas sejam acompanhadas de provas científicas independentes, amplamente reconhecidas, sólidas e verificáveis.

A solução? Um departamento de sustentabilidade que seja efetivamente multidisciplinar, trabalhe junto com a Comunicação, e estes em conexão direta com o Jurídico, que deve estar afinado com a avalanche regulatória. Conhecimento da regulação mais atual, partilha dos desafios com as diversas áreas da casa, bastante transparência, precisão e solidez das informações: é o segredo para mitigar o efeito colateral da pressão pela sustentabilidade e não deixá-lo comprometer os nossos hercúleos esforços para alcance das metas tão ambiciosas quanto necessárias.

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