Revolução tecnológica e recuperação económica são dois dos principais desafios que a Covid-19 trouxe às universidades e aos politécnicos.
Beatriz Dias nunca teve dúvidas. Quando era criança, não passou pela fase de querer ser bailarina, astronauta ou bombeira. Nem sequer princesa. No futuro via-se médica e fez a escolha muito antes de ter de a fazer. Hoje, é estudante do 12.º ano do curso de Medicina da Universidade do Minho. Quer especializar-se em Ginecologia e Obstetrícia, mas não descarta a possibilidade de vir a ser psiquiatra.
Beatriz, 18 anos, está numa das áreas certas. A pandemia da Covid-19 reforçou a importância dos profissionais de saúde, que deverão ser poupados aos efeitos mais profundos da crise económica que já começou a fazer-se sentir. "A realidade de todos mudou face à pandemia e eu não sou exceção. De repente, tivemos de considerar as consequências na saúde da doença, da quarentena e da crise económica que se aproxima", diz Beatriz, que imagina agora um futuro "um pouco mais sombrio" do que imaginava há um ano. No entanto, reconhece que o curso de Medicina sempre foi visto como a porta de entrada para "uma boa qualidade de vida, com uma grande empregabilidade e com tabelas salariais altas comparativamente com outras profissões".
"Já se passaram várias crises e tudo se foi mantendo mais ou menos estável, pelo que não tenho razões para pensar que desta vez será muito diferente. A minha perspetiva de futuro nesse aspeto não mudou, apesar de estar à espera de um corte considerável em todas as tabelas salariais, incluindo as dos médicos", explica.
Por terem geralmente vínculos laborais mais frágeis — como contratos a prazo ou trabalho a recibos verdes —, os jovens são os primeiros a engrossar o contingente de desempregados em tempo de crise económica. Segundo um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), publicado no final de maio, os jovens estão a ser "desproporcionalmente afetados" pela pandemia, que poderá marcar definitivamente as suas vidas profissionais. E são afetados de várias formas, que vão das perturbações no ensino à perda de emprego e às dificuldades na procura de trabalho.
ALGUNS NÚMEROS
385 mil estudantes matriculados no Ensino Superior, em Portugal, em 2019, segundo dados da Pordata.85,3% foi a taxa de emprego dos jovens portugueses recém-graduados (entre 20 e 34 anos), em 2019, segundo o Eurostat. Esta percentagem está em linha com a média europeia.
Dos trabalhadores mais jovens, os menos qualificados serão os mais atingidos pela crise económica provocada pela Covid-19. A conclusão consta de outro relatório, da consultora McKinsey, divulgado em abril. Cerca de 80% dos trabalhadores europeus que irão enfrentar uma situação de insegurança no emprego não têm qualquer diploma universitário. Mas não basta ter um canudo. Continuará a haver áreas mais e menos promissoras, tal como sempre houve. Quanto às primeiras, a pandemia veio, de certa forma, acelerar o que já estava a acontecer, e um exemplo disso mesmo é o dos cuidados com os idosos, uma necessidade que já existia devido ao envelhecimento populacional e que ganhou agora mais visibilidade pela forma como o SARS-CoV-2 afetou a população mais envelhecida, principalmente nos lares.
FORMAR AO LONGO DA VIDA
O mundo está a mudar rapidamente e as instituições de Ensino Superior são forçadas a adaptar-se, para sobreviver à crise económica, mas também para fazer parte da solução. Numa altura em que a redução de rendimento das universidades e politécnicos é já considerada uma inevitabilidade da crise, uma forte aposta destas instituições na requalificação da população ativa poderá ajudar a amortecer o seu impacto financeiro e contribuir para reconstruir a economia.
"Nesta aceleração tecnológica que as próprias organizações estão a ter, devemos ter um papel muito relevante na qualificação ou requalificação da população ativa", defende o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, Pedro Dominguinhos, para quem o Ensino Superior enfrenta um desafio de diversificação na tipologia de cursos oferecidos. "Para lidar com a necessidade de as pessoas voltarem frequentemente ao ensino, precisamos de uma diversificação muito grande dos cursos, se calhar não tão longos, mas que possam ser creditados." Também o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, Fontaínhas Fernandes, sublinha que, no período pós-pandemia, Portugal deve apostar na requalificação superior dos futuros desempregados resultantes da Covid-19 e lembra que o recente Programa de Estabilização Económica e Social do Governo "prevê programas de formação e de requalificação para desempregados em áreas emergentes, como a economia digital, a energia e alterações climáticas, bem como o setor social".
Quanto à revolução digital, e na opinião do professor de Economia da Universidade do Minho, João Cerejeira, o Ensino Superior ainda tem um longo caminho a percorrer para retirar dela todo o proveito possível", apesar de ter sido um dos setores mais beneficiados. A facilidade com que hoje se pesquisa e se acede à informação científica publicada, por exemplo, não é comparável com a realidade de há duas décadas, mas ainda existem "desigualdades significativas no que diz respeito ao acesso que as famílias têm às redes e aos meios digitais", alerta. "Acresce que não basta garantir o acesso, é também necessária uma literacia digital em termos de pesquisa e de seleção da informação, competências às quais nem sempre a universidade ou as famílias têm dado atenção."
"As universidades são o modelo para os alunos que nelas se formam. Tudo o que é experimentado nas universidades é replicado, potenciado e transformado na geração seguinte. É disto que se faz o progresso e o desenvolvimento económico", sublinha Maria d'Oliveira Martins, professora de Direito da Universidade Católica Portuguesa.
ENSINO À DISTÂNCIA É PARA MANTER, MAS MELHORAR
O b-learning (ou blended learning) — conjugação de ensino à distância e presencial — é uma das grandes apostas do Ensino Superior para o futuro, mas tem um longo caminho a percorrer até se tornar a solução ideal, uma vez que as instituições ainda estão a tentar perceber o que funciona e o que não deve ser mantido.
Na opinião de Maria d'Oliveira Martins, professora de Direito da Universidade Católica Portuguesa (UCP), o b-learning não pode ser "sinónimo da perpetuação do ensino online que tivemos no segundo semestre" do ano escolar que está a terminar, sendo apenas "a solução encontrada para não prejudicar os alunos no seu percurso académico". Depois do período de confinamento, o b-learning incidirá principalmente na exploração de "novas plataformas para fornecimento de elementos de estudo aos alunos", no estabelecimento de "parcerias entre as universidades", bem como num "ensino mais personalizado", antevê a docente.
Admitindo a possibilidade de, no próximo ano letivo, o b-learning ter de ser "conjugado novamente com ensino predominantemente online", por via de novas exigências de confinamento, Maria d'Oliveira Martins considera que esta forma de ensino "pode constituir uma oportunidade para os professores, não os limitando a replicar as suas aulas presenciais nas plataformas online, como fizeram este ano".
Para a professora de Direito da UCP, a principal vantagem do b-learning "é um ensino mais personalizado, que se adapta ao ritmo de vida dos estudantes, permitindo que tenham acesso a outro tipo de conteúdos, de forma a irem aprofundando o estudo e estando atentos aos problemas da atualidade". Além disso, chega a mais gente e permite uma formação contínua. Ressalva, contudo, que terá algumas dificuldades de implementação. Primeiro, porque as universidades terão de se dotar dos meios técnicos "necessários para a adoção de novos meios de ensino"; segundo, porque depende da formação de professores, que deverão "dominar os novos instrumentos ao seu dispor"; por último, porque o b-learning implica igualmente uma adaptação por parte dos alunos, que terão pela frente um ensino universitário mais exigente, com mais momentos de trabalho autónomo e estudo individual.
PANDEMIA AGRAVA BURNOUT NOS ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR
Um estudo apresentado em janeiro revelou que metade dos alunos das universidades e politécnicos nacionais está em burnout, ou seja, tem manifestações físicas e mentais graves de um stresse crónico decorrente do trabalho académico. Segundo a pesquisa — realizada antes da pandemia da Covid-19 —, muitas situações de burnout em estudantes do Ensino Superior têm raízes na crise financeira internacional que começou em 2007-2008. Na opinião de João Marôco, professor do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) e coautor do documento, a crise económica provocada pela pandemia irá agravar a situação a longo prazo.
A crise económica provocada pela pandemia, que muitas famílias já sentem, potencia as dificuldades financeiras da manutenção dos estudantes no ensino superior, ao terem de suportar o pagamento de propinas e de despesas como alojamento e alimentação. Por este motivo, "a suspensão de propinas ou o acréscimo do apoio social, ainda que temporário, aos estudantes em situação económica precária, poderá evitar a quebra do rendimento académico e o abandono escolar, entre outros", defende João Marôco.
Para já, e nos tempos mais próximos, o estado de confinamento, com a suspensão das atividades letivas presenciais e da atividade económica em geral, "terá certamente impacto nas dimensões de exaustão emocional, descrença e eficácia do burnout académico". A incerteza sobre a forma como as avaliações de final de semestre irão decorrer, a defesa de trabalhos e teses de final de curso irão, na opinião de João Marôco, "agravar os problemas de ansiedade dos estudantes e as dúvidas sobre como e quando poderá ocorrer o término do ano letivo ou o término do curso, bem como a inserção no estágio profissional ou mercado de trabalho". Mas há mais fatores que contribuem para o agravar de sentimentos de isolamento e depressão — o acréscimo de trabalhos e aulas à distância, a redução das redes de suporte social de amigos e colegas, e da interação presencial são apenas alguns. Ou seja, ressalva o investigador, "não só existem mais fatores potenciadores de burnout como também se observa uma redução dos fatores protetores do burnout".
Como forma de prevenção, o docente afirma que é necessário adequar o trabalho académico e as expectativas de rendimento dos alunos por parte dos professores e dos próprios estudantes, que devem privilegiar estratégias positivas. Por exemplo, a calendarização atempada de atividades, o recurso ao apoio de familiares e amigos, e atividades de desporto e lazer. Por outro lado, devem evitar comportamentos como a toma de medicação, o isolamento, a ruminação e o uso de bebidas alcoólicas e estupefacientes. Os estudantes devem igualmente privilegiar o envolvimento académico com as atividades letivas — evitando deixar tudo para o final do semestre — e não letivas, através de uma maior integração na comunidade académica. Investir em áreas de formação com potencial no futuro próximo é também fundamental mas, acima de tudo, os alunos devem perceber que "a formação mais importante para prepará-los para os desafios do futuro é o aprender a aprender".
Capacidade de resolver problemas novos é valorizada
O economista João Cerejeira explica, por seu lado, que as alterações no mercado de trabalho não se refletem, no imediato, nas escolhas que os candidatos fazem, mas a médio prazo. O docente da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho espera um reforço da procura nas áreas da Saúde e das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), "em que o emprego até poderá crescer". Além disso, afirma, "a alteração das cadeias globais de valor poderá contribuir para o aumento de profissionais da área logística e do planeamento da produção e do marketing digital". Quanto à oferta de cursos das instituições de Ensino Superior, e uma vez que depende da fixação de vagas pelo Governo, o professor universitário admite ajustes pontuais, mas não espera mudanças significativas. O clima de incerteza provocado pela pandemia reforçará, segundo João Cerejeira, "a necessidade de profissionais com capacidade de resolução de problemas novos, em contextos reais e complexos. Por outro lado, a necessidade de procurar novas oportunidades de negócio irá valorizar competências, como a orientação para o mercado ou a capacidade de negociação. Vai ser também importante não só o que se comunica mas como se comunica, para se vender novos produtos e serviços por canais alternativos", como as redes digitais. O docente assegura ainda que a formação superior é fundamental em contextos de incerteza, "não só pelos conteúdos curriculares mas também pelo acesso a experiências de natureza extracurricular que permitem o desenvolvimento de competências necessárias no mercado de trabalho futuro", ou seja, as soft skills."Por exemplo, uma experiência num programa Erasmus desenvolve a capacidade de lidar com a adaptação a um novo contexto, de desenvolver a autonomia e estratégias de aprendizagem ativa. Estas são competências úteis em contextos de elevada incerteza, como são os associados a situações de calamidade". Além disso, lembra, "foram os diplomados do Ensino Superior aqueles que melhor se adaptaram aos novos modelos de organização do trabalho, nomeadamente o teletrabalho", que a pandemia trouxe.
Tecnologia e Saúde dão mais garantias de emprego
Segundo Carlos Andrade, senior executive manager da consultora de recrutamento Michael Page Porto, a pandemia "catalisou alguns problemas económicos do País que já existiam". Com o agravar desses problemas, devido aos efeitos da pandemia, os cursos e as áreas mais importantes serão os que desenvolverem valor acrescentado para o País. Daí a necessidade da "criação de mais centros tecnológicos ao nível de R&D (Investigação e Desenvolvimento), e desenvolvimento de produto". Em plena revolução digital, considera, "as principais apostas em termos de Ensino Superior terão de ser nas áreas tecnológicas, em cursos como Informática, Eletrotécnica, Mecânica, Automação". Também a área da saúde continuará a ser uma prioridade, principalmente os cursos de Medicina, Enfermagem e de Ação Social", devido ao envelhecimento da população. Quanto à área do ambiente, Carlos Andrade reconhece-lhe uma grande importância, mas não a coloca nas áreas com maiores saídas profissionais, "pelo simples facto de a empregabilidade estar muito confinada à indústria". E prevê ainda que, nos próximos anos, "teremos alguma lacuna na área da educação", porque a carreira docente deixou de ser atrativa. A área do turismo, fortemente afetada pela pandemia, é, apesar disso, uma boa aposta "pelo peso que tem no nosso PIB", assegura. Quanto aos cursos que poderão ter uma taxa de empregabilidade menor, os que estão ligados às artes serão dos mais afetados, "pela pouca aposta do País na área da cultura". O mesmo poderá suceder com alguns cursos das áreas sociais, "em concreto Filosofia, Antropologia ou Sociologia", nomeia. Também os recém-licenciados com formação em História da Arte, Geologia, Arqueologia ou Arquitetura Paisagística poderão ter menos ofertas de emprego.
Prever como será o mercado de trabalho ainda é prematuro
Paula Baptista, diretora-geral da consultora de recrutamento Hays Portugal, é prudente nas previsões. Realçando que a pandemia da Covid-19 é "uma situação totalmente nova e ainda em fase de transição", diz ser difícil afirmar com segurança a forma como o mercado de trabalho será afetado a médio e a longo prazo e, consequentemente, o sistema de ensino. Só quando houver uma "maior noção do verdadeiro impacto da situação é que o sistema de ensino poderá fazer os devidos ajustes, com base também num diálogo constante com os empregadores". A líder da Hays Portugal recorda que a formação académica é um investimento para a vida e sublinha que as decisões devem ser tomadas de forma ponderada. "Aconselhar os estudantes de hoje a apostar em áreas específicas com base num momento específico e imprevisível como o que vivemos é um risco, e pode frustrar expectativas no futuro", adverte. Quanto às competências mais valorizadas nos jovens que irão entrar no mercado de trabalho, nos próximos anos, a responsável da Hays Portugal afirma que, embora as técnicas sejam fundamentais num mundo em constante mudança, os "conhecimentos adquiridos durante o percurso académico já são insuficientes ou estão desatualizados quando o profissional chega ao mercado de trabalho". Por isso, refere, tão ou mais importante do que os conhecimentos técnicos, são as soft skills. "Capacidade de adaptação, flexibilidade, pensamento crítico e disponibilidade para aprender são as bases para se ser bem-sucedido em qualquer área."
Áreas da logística ganham importância
Nos últimos anos, tem havido um conjunto de áreas cuja procura aumentou, e Pedro Dominguinhos, presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), acredita que essa tendência irá manter-se. "Tem que ver com a questão das competências digitais. Basta olhar para aquilo que foi a necessidade de resposta motivada pela pandemia para perceber que profissões ligadas ao digital, não apenas das empresas de Tecnologias de Informação e Comunicação, vão ter um reforço da procura. Por exemplo, "tudo o que tem que ver com programação, cibersegurança, Inteligência Artificial, ciência de dados, marketing digital e comércio eletrónico". Na opinião do também presidente do Instituto Politécnico de Setúbal, "outro conjunto de áreas que de um momento para o outro as pessoas perceberam que são mesmo relevantes tem que ver com tudo aquilo que é a parte da logística. Há muitos produtos que nos chegam digitalmente, como a música, que conseguimos ouvir no nosso computador, mas a comida tem de ser produzida e distribuída, e a parte da logística teve uma centralidade muito grande", observa. Depois, há um conjunto de áreas e de serviços pessoais que a pandemia revelou serem também importantes, como "os cuidados de saúde, a questão da gerontologia, tudo o que tem que ver com o apoio à terceira idade. Muitas dessas situações têm uma ligação com a tecnologia. Não tenho a mínima dúvida de que vão ser potenciadas no futuro", diz. Pedro Dominguinhos refere ainda que algumas profissões terão de reinventar-se para responderem às necessidades do mercado. "Face à evolução tecnológica, a profissão de contabilista, por exemplo, vai ser completamente diferente daqui a dez anos. Muitas atividades rotineiras, e esta situação já hoje se verifica, passarão a ser feitas por máquinas que as automatizarão. Os contabilistas terão de ter um pensamento estratégico muito mais fortalecido, uma capacidade de ajudar as empresas do ponto de vista do negócio, antecipar cenários e gestão de risco. E os cursos terão de se adaptar às exigências do próprio mercado", afirma o presidente do CCISP. À 1AL gente e permite uma formação contínua. Ressalva, contudo, que terá algumas dificuldades de implemen-tação. Primeiro, porque as universidades terão de se dotar dos meios técnicos "necessários para a adoção de novos meios de ensino"; segundo, porque depende da formação de professores, que deverão "dominar os novos instrumentos ao seu dispor"; por último, por-que o b-learning implica igualmente uma adaptação por parte dos alunos, que terão pela frente um ensino universitário mais exigente, com mais momentos de trabalho autónomo e estudo individual.
Mercado de trabalho procura também competências sociais e emocionais
O Fórum Económico Mundial "dá especial relevância à ciência de dados e à Inteligência Artificial, engenharia e computação, economia verde e a economia social e ainda do desenvolvimento de produtos" em termos de novas oportunidades, lembra o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), Fontaínhas Fernandes, referindo que, num mundo em que as máquinas vão ter um papel cada vez mais relevante, as áreas das Ciências Sociais e das Humanidades irão, certamente, ter um particular destaque. Além disso, "existem áreas que devem ser consideradas estratégicas pelos países", como, por exemplo, "o setor agroalimentar, cuja necessidade de autossuficiência ganhou maior relevância no atual momento da pandemia, mas que no futuro deverá atender às previsões de aumento demográfico ao nível mundial". Fontaínhas Fernandes, que é ainda reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, explica que a capacidade de adaptação e de responder a situações de grande incerteza exige que, além de capacitar os estudantes com competências científicas, técnicas ou profissionais, "é fundamental dotá-los de competências transversais, sociais e emocionais, cada vez mais valorizadas pelo mercado de trabalho". O futuro passa por "ofertas formativas multidisciplinares que potenciem o desenvolvimento de atitudes e competências favoráveis a mudanças tecnológicas e sociais, à aprendizagem contínua, à inovação, à capacidade criativa e empreendedora, à afirmação da autonomia reflexiva e responsável, pautada por elevados valores éticos".